Prêmio Braguay

Prêmio Braguay de Arte Contemporânea – Linhas abertas, muitos caminhos

Marcos Sari – Curador

Porque ainda promover salões de arte? Essa tradição que nos leva a tempos passados ainda faz sentido na atualidade? Os salões e suas premiações, desde seu surgimento, possibilitam a interação entre artistas e comunidades fazendo com que a circulação de produções culturais, e suas ideias materializadas em arte, encontrem seu público.  

    Uma exposição coletiva sempre vai trazer proposições poéticas que falarão de singularidades, a partir do trabalho de cada artista participante. Em Linhas abertas, muitos caminhos, seis artistas, escolhidos cuidadosamente por júri especializado, apresentam produções consistentes e diversas criando um universo particular e coletivo ao mesmo tempo. É neste ambiente expositivo que podemos transitar e produzir nossas próprias experiências estéticas na interação com as obras.

           Enzo Melo nos leva a “viajar” por suas pinturas que ora comentam a sua maneira obras clássicas da história da arte, ora tratam de cenas da natureza ou do cotidiano. Sua produção, de apurado domínio técnico da pintura, carrega ainda doses de ironia e humor, misturando o clássico com o atual em interessante medida. Gianna Delabary nos traz em sua obra um olhar atento aos fenômenos poéticos que estão ao seu redor. Com aguçada delicadeza apreende estes momentos que, depois de processados por sua ação poética, compartilha nas imagens que apresenta. A artista nos faz cúmplices desses encontros da vida com a arte. Juan Puerto nos coloca em  uma condição inusitada uma vez que em suas pinturas aparecem cenas fantásticas construídas com pinceladas expressionistas. Essa característica de seu trabalho nos traz perplexidade e nos captura através de uma poética meio misteriosa, com boas doses de uma espécie de componentes mágicos. Kike da Rosa, por sua vez, faz desenhos de luz revelando ao espectador esse gesto do movimento captado pela câmera que resulta em grafismos luminosos. Uma das perguntas que o próprio artista faz é : “quando você deixa de ser matéria para ser luz?”. Este questionamento é uma das inúmeras portas de entrada para interagirmos com suas fotografias. Indo adiante neste percurso, é impossível acessar a obra de Nanda Monteiro sem sermos desafiados por seu grito de luta. Neste caso, corpo, voz e alma da artista atuam em conjunto chegando ao resultado-performance apresentado. Com uma força proporcional e adequada ao tamanho e peso de sua causa, nos convida a embarcar em seu manifesto ! Vam_s Junt_s? Por fim, Wagner Previtali, dialoga com sua terra natal, Bagé, de maneira franca e subjetiva. Está a nos dizer que a tradição e a memória podem ser revisitadas pela via da contemporaneidade de forma autoral a nos traz interessantes surpresas. Quem sabe podemos re-olhar nosso lugar de origem com um deslocamento intencional através da arte ?

        Este Prêmio nos revela e apresenta estas obras atuais desta região de fronteira: ao sul do Brasil com o norte do Uruguai com a certeza de estar colaborando para uma ideia de cultura que “dá passo” as novas produções de artistas locais. Somam-se aqui a qualidade estética com a coragem na aposta em proposições contemporâneas. O Prêmio Braguay de Arte Contemporânea possibilita o contato com essas produções exigindo do público sua atenção sensível e uma disponibilidade ampliada para uma aproximação produtiva com a arte.

Marcos Sari

Curador

O Prêmio BRAGUAY de Arte Contemporânea  realizado através do Fundo de Apoio da Cultura , da Secretaria do Estado da Cultura do Rio Grande Do Sul, financiamento Pro Cultura RS – FAC Visual.

Conversa com Jorge Salines

 

Tive o primeiro contato com a produção de Jorge Salines em junho deste ano quando, a convite do BRAGUAY, visitei seu ateliê na Av. Cuaró. Uma pequena sala repleta de peças escultóricas que tem a madeira como material predominante e nas quais, a qualidade poética e habilidade escultórica estão evidenciadas. O trabalho de Jorge abrange obras em escala de objetos no tamanho aproximado de uma garrafa, algumas peças maiores e projetos em grande escala.

Depois destas visitas ao ateliê da Cuaró, decidi propor uma espécie de texto-conversa, formulando perguntas para que ele falasse sobre seu trabalho.

O resultado desta charla segue abaixo esculpido por minha curiosidade e pela voz do artista.
Marcos Sari*: Considerando que tua produção escultórica é grande e variada, fale um pouco sobre a escolha das obras que farão parte desta mostra na mini-galeria do Braguay.
Jorge Salines: Estos trabajos los empecé a fines del 2017. Junté maderas rústicas (piques, postes, partes de casas antiguas) y descubrí la harmonía existente entre estos elementos, trabajando en ellos el color y la textura. Y así fueron surgiendo estos Guerreros(As) que se aproximan de la figura humana.
MS: Ao conhecer teus trabalhos anteriores, percebi que as partes em ferro incorporadas nestas peças atuais são uma novidade na tua produção. Como se deu esta introdução e quais são as tuas impressões sobre isto?
JS: Hubo otra etapa anterior a la que conociste, fueron los primeros, eran totalmente talladas, una terminación bien pulida y figurativas. Despúes hubo un tiempo en que hice ensamblajes de maderos con vidrios, metales y otros.

MS: O que influencia a tua produção como artista?
JS: La madera es la que me lleva a esa constante investigación que hago con ella, un material noble y fascinante para mi. Influencias…Habrás visto que en algunos trabajos aparece la “T”de Osmar (Santos), mi primer profesor de dibujo. Más tarde, cuando conocí el trabajo de Carmelo Arden Quín, surgió aquella etapa que conociste. Ensamblajes muy pulidos y con formas geométricas.
MS: Com relação ao título da mostra – Guerreiros(As) – de que forma acreditas que este nome se relaciona com as obras expostas?
JS: Esto tiene que ver con la giria usada, tanto en portugués como en español. Se le decía guerrero(a) a personas trabajadoras y que siempre andan de una cierta forma batallando por buenas cosas. Nada a ver con guerras o violencia. Son Guerreros (As) de la paz y de la cultura.
MS: Considerando que estamos no território do BRAGUAY, juntamente com os Guerreiros(As), quais são tuas motivações e também quais os problemas de se situar neste espaço meio imaginário, meio uruguaio, meio brasileiro, meio fronteiriço?
JS: Aquí en este espacio no existen fronteras (esto ya es una gran motivación), menos aún para estos Guerreros (As), que vienen bien intencionados de todas partes.
*Marcos Sari – artista e arte-educador / inverno de 2018.